A IRA DE SÃO VICENTE DE PAULO

Dia abençoado de 2024 do nosso querido fundador, São Vicente!

Eu, talvez, uno-me aqui a essa reflexão com apenas alguns escritores e autores que mergulharam no temperamento colérico de Vicente.

Assim como nosso Senhor Jesus demonstrou – e provou – que até o símbolo mais feio e mortal de todos, a cruz, pode se tornar o símbolo mais belo e restaurador do amor e da vida, Vicente mesmo transformou sua propensão à raiva em bondade e gentileza, pela graça de Deus. Em um tipo de caridade prática, organizada e inspiradora que a França, a Europa – e eventualmente o mundo inteiro – nunca viram.

À primeira vista, isso foi atribuído à forma como a pobreza dos escravos das galés o encarava, o tocava e o transformava de forma irreversível. A experiência incluía também os pobres devastados das cidades e do campo da França, em parte devido à guerra civil da época, bem como o homem moribundo das propriedades de Gondi que lhe confessou.

De fato, ele pleiteava com os ricos de sua época – especialmente as mulheres e senhoras – para que suas obras de caridade pudessem ser mantidas, formando assim as Damas da Caridade, entre outros. Ele viu a necessidade de mais padres para que as confissões fossem mais acessíveis, e que as necessidades espirituais dos pobres pudessem ser melhor atendidas, dando origem à Congregação da Missão. Sim, ele percebeu que precisava de mais mãos e pés com regularidade; assim, fundou a Pequena Companhia das Filhas da Caridade.

Mas voltando à irritabilidade fácil inerente a Vicente. Voltando ao seu mau temperamento. Honestamente, tenho dificuldade em imaginar pessoalmente o que um dos contemporâneos de Vicente escreveu, que ele era conhecido por natureza de uma disposição biliosa.

Ainda assim, estou convencido de que é fundamental apreciar mais os fundamentos da conversão relativamente dolorosa de Vicente à santidade. Era o seu profundo desejo de revestir-se do espírito de Cristo, apesar de seu caráter. Isso, com o tempo, deu origem à espiritualidade vicentina sempre vital.

Desde o início de sua vida como jovem padre em 1602, por exemplo, apesar de seu desejo de riqueza e prestígio, ele procurava constantemente mentores e influências espirituais. Ele queria sempre ter um compasso espiritual. Ele os encontrou em de Bérulle, Duval, Francisco de Sales, para citar alguns. Esse anseio espiritual eventualmente se tornou o próprio ímpeto que permitiu a Vicente, com o tempo, ver distintamente o próprio rosto de Deus nos pobres.

Com essa base sólida, os pobres se tornaram instrumentos através dos quais Vicente lutou – e conseguiu – para se tornar uma das pessoas mais gentis e bondosas que já caminharam sobre a face da terra.

Os pobres, porque ele via Deus neles, realmente ensinaram Vicente a olhar além de si mesmo para as necessidades do próximo sofredor e do mundo. Ele nunca tentou fazer isso sem buscar sempre a graça de Deus. Sempre buscando o que o mundo precisava – e não mais o que ele, sua família, precisavam.

Para concluir, mesmo o temperamento volátil de Vicente se torna um testemunho muito poderoso de que o amor de Cristo evangelizador, e o amor e a graça de Deus, são um poder transformador verdadeiro, tornando realmente todas as coisas possíveis.

No final, os pobres da época de Vicente foram a sua própria salvação.

FRANCISCO NICOLÁS P. MAGNAYE JR., CM

Secretariado Internacional da VMY

Manila, Filipinas, 20 de setembro de 2024

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